quarta-feira, 11 de agosto de 2010

DEUS NOS DÁ NETOS PARA NOS COMPENSAR DE TODAS AS PERDAS


Netos são como heranças, você os ganha sem merecer.
Sem ter feito nada para isso,
de repente eles caem do céu...
É como dizem os ingleses, um Ato de Deus.
Sem  passar as penas do amor,
sem os compromissos do matrimônio,
sem as dores da maternidade trata-se de mais um filho.
O neto é, realmente, o sangue do seu sangue, filho do filho,
mais filho que filho mesmo...
Cinquenta, cinquenta e dois anos...
Você sente que o tempo passou mais depressa do que esperava.
Não lhe incomoda envelhecer, é claro.
A velhice tem suas alegrias, as suas compensações:
todos dizem isso, embora você, pessoalmente,
ainda não as tenha descoberto, mas acredita.
Todavia, às vezes te dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores com suas paixões. A doçura da meia-idade não lhe exige essa efervescência.
È saudade é de alguma coisa que você tinha
e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade: "Bracinhos de uma criança
O tumulto da presença infantil ao seu redor.
Meu Deus, para onde foram as suas crianças?
São os adultos que hoje são os filhos,

que tem sogro e sogra, conjugue emprego,
apartamento e prestações, você não encontra, neles, de
modo algum as suas crianças perdidas.
São homens e mulheres adultos; não são mais aqueles que você recorda do passado.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta
nenhuma das agonias da gestação ou do parto,
o doutor coloca nos teus braços um bebê: o seu neto(a)
Completamente grátis, nisso é que está a maravilha.
Sem dores, sem choros, aquela criancinha da qual
você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida.
Aquela criancinha, longe de ser um estranho,
é um filho seu, que te é devolvido.
E o espantoso é que todos  reconhecem o seu direito
de  amá-lo com extravagância.
Ao contrário, causaria espanto e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor guardado.
que há anos se acumula, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá netos
para nos compensar de todas as perdas trazidas pela velhice.
São amores novos, profundos e felizes, que
vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico,
deixados pelos arroubos juvenis.
É quando vai embalar o menino e ele... tonto de sono abre os olhinhos e te diz:  “Vovó?..."    E aí o seu coração estala de felicidade, como um pão saindo do forno!

(Raquel de Queiroz)




Um comentário:

Nelita disse...

Ai, Senhor, vc faz os meus olhos se encherem de lágrimas... É difícil ser mãe... Você quer que eles cresçam bem, mas também não quer que cresçam !!!! Mãe é um ser louquíssimo...